O clube afastado dos grandes palcos procura revalidar a honra de outros tempos, onde o amor dos seus adeptos tem uma palavra a dizer.
Os quase 100 anos de história fazem do Sport Clube Beira-Mar um dos mais emblemáticos do desporto em Portugal. O clube atravessou recentemente uma fase menos boa. Entre uma insolvência, candidaturas falhadas à 2ª liga profissional e o Campeonato Nacional de Seniores, a instituição tenta agora revitalizar o seu legado, almejando a vontade de devolver aos adeptos a glória de outrora.
Consciente de todo este turbilhão, o Sport Clube Beira-Mar decidiu apostar numa comunicação mais audaz capaz de criar uma ligação entre as gentes de Aveiro e sua região. Aqui entra Ângelo Valente, convidado em julho passado a abraçar um projeto que diz ser “muito aliciante, acima de tudo pelas pessoas que me convidaram”, neste caso, Diogo Catraio, diretor desportivo do clube. O atual responsável confessa-se ainda desafiado, “para além de ser o meu clube, é uma das maiores marcas desportivas do país”. Para jogar a seu lado, escolheu José Esteves, um arquiteto que Ângelo diz ser cheio de talento e que exerce em campo o papel de diretor de imagem do clube. Juntos são responsáveis por toda a comunicação.
O desafio passa por ligar ainda mais as pessoas ao clube. Ângelo afirma que “a comunicação é fundamental em qualquer área da sociedade, muito mais num clube como o Beira-Mar que vive do amor das pessoas”. Para isso, o diretor decidiu implementar uma comunicação à escala mundial, que teve resultados quase imediatos. O caso Usain Bolt é um exemplo disso. O recordista dos 100 e 200 metros – que marcou uma era no atletismo – foi convidado, através do facebook do clube, a integrar os trabalhos da equipa de futebol, fazendo valer o desejo do atleta em singrar no mundo futebolístico. Nessa publicação, o clube oferecia algo como ovos moles, hambúrgueres do Ramona, cerveja no bar e um passeio de moliceiro. O convite chegou além-fronteiras, sendo noticiado internacionalmente na CNN, no L’Equipe e na ESPN, e em Portugal, na RTP e nos jornais desportivos.
A apresentação da D. Glória do bar, no último dia do mercado de transferências, com 147 mil visualizações ou a palestra do Sr. João, do Centro Comunitário da Gafanha do Carmo, com 137 mil visualizações, chegaram aos mais variados meios de comunicação nacionais como RTP, Visão, Sábado, JN ou A Bola.
Amor à camisola
O amor de que nos fala foi demonstrado por dezenas de adeptos e simpatizantes do clube quando, em agosto de 2015, geraram uma onda de voluntariado para “lavar a cara” ao velhinho e então abandonado Mário Duarte. Este voluntariado consistiu na limpeza e pintura das infraestruturas e equipamentos desportivos.
A vizinha Universidade de Aveiro, que fazendo valer a sua proximidade, imediatamente gerou uma onda de solidariedade entre os estudantes, que levaram a cabo uma praxe académica solidária, organizada pela Comissão de Faina de Química. Gestos que certamente ficaram imortalizados e tornaram a inevitável mudança para o Estádio Municipal de Aveiro (EMA) uma deslocação pesada e com alguma mágoa, num clube que a nível futebolístico conquistou por duas vezes o campeonato da 2a Liga e, em 98/99 ergueu a Taça de Portugal.
Hugo Coelho, natural de Vagos e atual presidente do Sport Clube Beira-Mar prevê uma transição agridoce para o EMA. Afinal de contas, são 83 anos de glórias num Mário Duarte tão acarinhado e próximo dos beiramarenses.
A transição, que apenas estaria prevista para o início da próxima época, já se vai fazendo notar, devido, e segundo o mesmo, a “contingências” assentes em três fatores distintos: “a primeira, a nível social, está associada a um passado histórico, carregado de paixão e memórias inesquecíveis. Na vertente desportiva, as melhorias são notórias. O Clube tem ao seu dispor excelentes infraestruturas e os atletas têm um relvado que permite desenvolver um futebol de qualidade. O EMA também permite a reunião das modalidades num só espaço, possibilitando a escalabilidade e otimização de recursos. No aspeto financeiro, e no que à bilheteira diz respeito, há um decréscimo acentuado, comprometedor e preocupante”, explica.
Sobre 2017 conta-nos ter sido um ano com muitas alegrias, mas também com algumas tristezas à mistura, como o adeus a antigas glórias aurinegras, sócios, adeptos e família. Por outro lado, o ano transato trouxe ao clube a aprovação do plano de revitalização, “que nos permitiu continuar a ser um clube quase centenário”. E explica, “levámos vários atletas às seleções nacionais em várias modalidades e escalões; formámos atletas e tivemos também bons resultados desportivos, fruto do leque de modalidades que o clube alberga”. Em 2017, surgiram mais cinco modalidades, totalizando quinze: andebol, atletismo, basquetebol, bilhar, boxe, capoeira, e-sports, futebol, futsal, jiu jitsu, judo, karaté, kickboxing, grappling e paintball.
Sobre o alargar do leque de modalidades, Hugo Coelho diz que o objetivo passa por responder aos apelos da comunidade e colmatar as necessidades desportivas existentes, sendo que a prioridade é a criação de modalidades ou equipas femininas. Contudo, reitera “temos a consciência da fragilidade em que hoje vivemos no que concerne a infraestruturas. Assim, procuraremos responder à comunidade, mas com a razoabilidade exigida”.
Consciente destas debilidades, revela-nos que o clube vive, entre outras, da boa relação existente com a Universidade de Aveiro. A equipa de Basquetebol é a imagem do trabalho em conjunto, da partilha de objetivos com a instituição de ensino. Uma equipa que compete na Proliga e no campeonato universitário, composta por atletas que na sua maioria são alunos.
Questionado sobre a maior proximidade do clube com a cidade, Ângelo fala da força da marca “Paixão Aurinegra”, onde a história e a honra das cores desta camisola fazem com que os adeptos vivam o clube intensamente.
Os tempos áureos do 1o escalão do Futebol português ainda se vão fazendo sentir, com os adeptos aurinegros a viverem o clube como um dos “grandes”, mesmo estando inseridos na 1a Divisão da AFA – Liga Safina, onde ocupam de momento o 4o lugar.
Hoje o Beira-Mar está assente no altruísmo de todos, “somos amadoramente e voluntariamente profissionais, porque todos os dias fazemos o máximo com o pouco que temos”.
Sublinha ainda que todas as pessoas que gostam do Beira-Mar “têm que perceber que o clube precisa de todos, precisa de adeptos, precisa de parceiros, precisa de amor, porque o amor, acredito eu, resolve quase sempre tudo.”
Já nos descontos, e porque esta “partida” vai longa, adiantam-nos que o grande projeto do clube é “criar mecanismos que o tornem sustentável, competitivo e uma referência na formação de atletas e seres-humanos.” No fundo, “honrar e encher de orgulho as gentes de Aveiro”.
Fonte da Foto: Edição nº59 Fevereiro 2018
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