Presença assídua nas esplanadas portuguesas desde os anos 30, esta senhora com quase noventa anos tem levado Portugal além fronteiras deixando o seu cunho bem português nas esplanadas de todo o mundo.
Nascida e criada na ADICO, fábrica de mobiliário metálico em Avanca com quase um século de existência. Foi apelidada de “Cadeira Portuguesa” mas também é conhecida por “5008”, o seu número de referência. É robusta, ergonómica e funcional, sem descurar na elegância de um design que perpetuou ao longo das décadas. É o traço pouco convencional das pernas que sobressai à primeira vista, assim como o assento inclinado e aparentemente instável. Mas desenganem-se aqueles que pensam que a “5008” é uma cadeira desconfortável. Não é por acaso que continua de pés bem firmes na calçada portuguesa. Foi na década de 30 que se começaram a ver as primeiras cadeiras portuguesas a adornar esplanadas lisboetas. Os icónicos Café Lisboa, na Avenida da Liberdade e o Café Nicola, no Rossio foram dos primeiros espaços onde apareceu. Nos dias de hoje não será difícil dar de caras com ela, em qualquer ponto do país, de tanto que está enraizada na nossa cultura. É uma peça tão tipicamente portuguesa que são raros aqueles que não se recordam de terem estado sentados numa, seja com os pais ou com os avós.
A Cadeira Portuguesa é muito mais do que uma simples cadeira. É um símbolo da portugalidade reconhecido internacionalmente pelo seu desenho e história. Pelo que, quando um produto atinge este estatuto passa a ter lugar em qualquer tipo de espaço e acompanha qualquer tipo de decoração seja ela mais elaborada ou simples, de acordo com Miguel Rodrigues diretor geral da ADICO. Em 2015, foi homenageada numa exposição dirigida pelo arquiteto Nuno Ladeira. Esta iniciativa juntou arquitetos, artistas plásticos e designers portugueses que foram desafiados a fazer a sua reinterpretação deste modelo intemporal. Nini Andrade da Silva, Cristina Santos Silva, Fernando Hipólito, Fernando Moreira da Silva, Jorge Silva, Helena Ladeiro, foram alguns dos nomes que se juntaram a esta iniciativa. Miguel Rodrigues, afirma que a Cadeira Portuguesa é de todos os portugueses e nesse sentido, a fábrica tem trabalhado com alguns designers nacionais no desenvolvimento de novos modelos, como é o caso do artista Pedro Sottomayor. Maria e Manel são duas novas versões do modelo original, uma com e outra sem braços. Estas cadeiras são fabricadas em alumínio, conferindo-lhes leveza e estão disponíveis em diferentes cores. A Cadeira Portuguesa é uma das muitas peças produzidas pela ADICO e todos têm um carinho especial por ela mas curiosamente não é a peça mais vendida. Este ano, o novo modelo de polipropileno já conta com 38 mil unidades produzidas e a versão original com quase 30 mil. O próximo ano é um marco importante para a empresa, uma vez que comemora 100 anos de história. Um legado que Adelino Dias da Costa deixou a todos os avancanenses que
afirma e enaltece o talento português.
Fundador
ADELINO DIAS DA COSTA
Foi desde tenra idade que Adelino Dias da Costa ganhou o gosto pela arte da serralharia ao ajudar o seu pai, que na altura tinha uma pequena oficina caseira. Com um espírito empreendedor invulgar para a época que se vivia e para o meio onde nasceu, Adelino decide viajar para o Brasil com apenas doze anos de idade, com o intuito de conseguir melhores condições de vida. Inicialmente nem tudo correu de feição, mas o sonho de vir a ser um serralheiro ainda lá estava. Em 1920 regressa à sua terra natal, Avanca, após ter trabalhado na conceituada fábrica de mobiliário metálico Silva & Silva em Lisboa, onde deu nas vistas pela sua técnica e perfeição nos trabalhos. Decide assim, fundar a sua própria empresa de mobiliário metálico, (na altura apenas produziam camas de ferro), que denominou de ADICO. Na década de 30, Adelino Dias Costa optou por enveredar a produção para a área do mobiliário hospitalar, dando já evidências do domínio de tecnologias sofisticadas para a época, como é o caso de mesas hidráulicas. Foi também nessa década que a ADICO desenvolveu uma linha de mesas e cadeiras de esplanadas, nascendo assim a emblemática Cadeira Portuguesa. A qualidade, inovação e design eram cada vez mais associados à marca e consequentemente foram desenvolvidas novas linhas de mobiliário. Passados dez anos, a ADICO já contava com 350 trabalhadores e dominava as exportações para o mercado das ex-colónias portuguesas. Foi graças a este desempenho que se tornou na maior empresa portuguesa a produzir mobiliário hospitalar e a segunda maior da Europa.
Fonte da Foto: Edição nº3 Agosto 2019
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