Longe vai o tempo em que o “street art” era visto como marginal ou como um ato de vandalismo. Hoje são inúmeras as manifestações que comprovam o contrário e que espelham o reconhecimento por parte das entidades públicas e privadas que, cada vez mais, apostam e investem neste tipo de arte para valorizarem os seus espaços urbanos.
“Street art” ou arte urbana é a expressão que se refere a manifestações artísticas desenvolvidas no espaço público, que engloba todo o tipo de arte expressada na rua e da criatividade destas “obras”. Algumas tornam-se símbolos das cidades. Hoje, à semelhança do que acontece com outras áreas profissionais consideradas num passado recente como de marginais ou de menor importância, tais como os disc jokeys, os cozinheiros ou os skaters, os criadores de arte de rua são agora vistos como artistas e em alguns casos, como estrelas internacionais.
Em Portugal o caso mais exemplificativo deste fenómeno chama- se Alexandre Farto, mais conhecido como VHILS. Este artista começou pelo graffiti, mas foi com o seu original projeto “Scratching the Surface” que ganhou notoriedade mundial. Neste projeto, o artista utiliza ferramentas de construção, para na parede “desconstruir” rostos que com o tempo vão-se alterando e ganhando novos contornos. Foi uma destas obras que nasceu em Aveiro, um rosto deslumbrante, esculpido numa parede em frente à estação ferroviária. VHILS, tem apenas 30 anos, e hoje o seu trabalho está espalhado pelo mundo, desde Nova Iorque, Brasil, China, Macau ou Tailândia, passando por vários países europeus.
As cidades de Aveiro e de Águeda, não são exceção ao apoio a este fenómeno, onde se encontram verdadeiras obras de arte. Aveiro para além da icónica obra do VHILS, tem também verdadeiras pérolas criadas por artistas emergentes, tais como Fábio Carneiro, António Conceição ou por diversos artistas nacionais e internacionais ligados a projetos europeus, tais como o “Art and Trust” e a CREART. Um dos exemplos mais recentes, é o mural do artista António Conceição, perto da estação ferroviária de Aveiro, mesmo ao lado da obra de VHILS. Este mural tornou-se viral nas redes sociais. O autor é artista plástico cabo- -verdiano, professor desempregado e residente em Vagos. O graffiter e tatuador Fábio Carneiro, natural de Vila Nova de Gaia, agenciado pela galeria de arte contemporânea Nuno Sacramento, tem feito trabalhos em Aveiro e noutras cidades de Portugal e além fronteiras. O seu sucesso como graffiter tem vindo a crescer e já são algumas entidades privadas de Aveiro a apostar no seu trabalho para valorizar os seus espaços, tanto na área da restauração como empresarial. A CREART, um projeto europeu de cooperação cultural entre 12 cidades, teve como intuito fomentar a criatividade local através do trabalho em rede, da partilha de experiências, bem como da exploração de novas metodologias e técnicas artísticas. Esta rede cultural marcou Aveiro com um graffitti localizado no Parque Infante D. Pedro feito pelos espanhóis Jorge Peligro e Icha Bolita.
Ao falar de arte urbana na cidade de Águeda é incontornável a referência ao AgitÁgueda. Aliás este evento é sinónimo de arte urbana. Edição após edição as ruas desta cidade ficam mais coloridas e marcadas para a posteridade com a assinatura dos mais importantes nomes do graffitti nacional e internacional. Do cada vez mais reconhecido artista português, Bordalo II, ao mais mainstream artista internacional, como o italiano Francesco Camillo Giorgino, conhecido como Millo, Águeda ganha mais credibilidade como uma cidade de referência no que toca à arte urbana. As obras mais recentes nesta cidade são sem dúvida a obra de Millo, no depósito de água em Recardães. Este artista tem espalhada a sua obra por diversas cidades do mundo, tais como Roma, Milão, Bolonha, Florença, Londres, Paris, Luxemburgo e Rio de Janeiro. O seu trabalho é bastante apreciado e hoje reúne um grupo de fãs cada vez maior. Destacamos também a obra de Tiago Gomes no centro de Águeda, apontado como um dos principais nomes da nova geração portuense, o artista e designer gráfico conhecido por Godmess. Embora recente, outra obra que se tornou icónica é a do lisboeta The Caver, localizado na Praça Conde de Águeda, que pelo seu colorido não deixa ninguém indiferente. Mário Belém, formado em design gráfico pela Ar.Co, reconhecido ilustrador de Carcavelos assina, um dos graffitis mais emblemáticos da cidade. Falamos da “Lenda da Ponte de Alfusqueiro”, localizada na Rua Fernando Caldeira que segundo reza a lenda “Nem sempre o demo leva a melhor com o Homem, sobretudo se este tiver a ajudazinha de uma fada”. Um conselho, da próxima vez que passearem pelas ruas da cidade estejam mais atentos aos detalhes.
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