Imbuído de uma motivação surpreendente, o projeto assume-se como o preencher de uma lacuna no mercado, dada a ausência de barcos de luxo personalizáveis e ainda com um cariz social muito específico.
Jorge Martins, 44 anos, poderia continuar como CEO de uma das maiores consultoras na área da tecnologia e informação, a Capgemini Portugal, mas preferiu mudar de vida, conta, por telefone, a partir de sua casa em Lisboa, local de onde gere a ROM Boats – negócio que criou há cerca de um ano e que consiste na produção de barcos de luxo de design exclusivo em edições limitadas.
O então empresário trocou a estabilidade do cargo de diretor executivo da subsidiária portuguesa Capgemini para entrar num negócio que confessa ter sido “obra do acaso”. Cliente de barcos há já algum tempo, “sempre achei a compra um processo singular: os fabricantes não me davam a capacidade de personalização e sentia que tinha poucas opções. Se considerarmos um barco um meio de luxo, estou a gastar uma ‘pipa de massa’ para ter um igual ao do meu vizinho. Não tenho nenhum tipo de diferenciação pelo preço face ao produto que estou a comprar”, reforça. Foi precisamente o fator diferenciação que fez com que Jorge Martins se apercebesse da lacuna do mercado e decidisse, em janeiro de 2018, criar a ROM – Rebuild Ocean Motivation.
Com uma equipa de seis pessoas e um estaleiro em Aveiro, a empresa cria barcos únicos através de uma estreita relação com o cliente. Este pormenor torna a personalização e a costumização uma realidade. Um negócio único em Portugal, como explica o fundador “ninguém faz este modelo na Europa e quiçá no mundo até porque o cliente começa a personalizar o seu próprio barco desde o momento em que a fibra está terminada”.
A ROM Boats apenas faz séries limitadas e numeradas de cada barco, sendo a sua premissa vender qualidade. “Não fazemos mais de 20 unidades. Quando chegar ao número 20 temos de ter outro modelo na rua, que por sinal já estamos a preparar, o modelo de 45 pés. Neste momento, o que estamos a desenvolver é o ROM-28, de 28 pés e que estará na água em julho”.
Um estaleiro que é também uma galeria
O estaleiro, situado no Terminal Sul do Porto Comercial de Aveiro, serve também de showroom, o que traz alguma surpresa a quem visita o espaço, como explica Jorge Martins, “recebemos visitas todas as semanas, inclusive aos sábados e domingos. Este ano, até no Dia de Natal!”. Para além disso, estiveram presentes na ARCO Lisboa nas duas últimas edições, acrescenta. Uma ligação à arte visível pelo convite que receberam igualmente este ano para estarem presentes na ARCO Madrid – a feira de arte contemporânea mais antiga da Europa.
“Se imaginarmos existirem cerca de 50 galeristas em lista de espera e a nós ter-nos sido dada entrada direta, óbvio que nos sentimos orgulhosos”.
O balanço tem sido muito positivo e visível não só através das vendas mas também do reconhecimento da imprensa especializada, das parcerias e de um recente convite feito pelo Governo Português para estarem presentes numa das maiores conferências mundiais do setor náutico, na Noruega.
De entre os projetos de design próprio em curso, destaque para a reconstituição completa de um barco icónico, o Chris-Craft Excalibur “só há oito no mundo” revela Jorge. “É um barco de 1979 muito bonito, em cor cobre, algo que não se vê em lado nenhum. Foi completamente renovado, tanto no interior como exterior, tem motores no vos e não tem botões: é digital. Quisemos manter a tradição ao mesmo tempo que o adaptámos com o que de melhor existe a nível tecnológico”, explica. Jorge Martins considera que existe em Portugal mão-de-obra qualificada e “apreciada sobretudo a nível internacional” na área da construção naval.
E Aveiro é, sem dúvida, “uma zona por excelência, devido aos conhecimentos de construção naval que ainda existem, mas também de estofos, carpintaria, metalomecânica, design”. E reforça, “este é um projeto 100% comercial e 100% social. Só recrutamos pessoas que, ou já trabalharam nesta profissão e já não trabalhavam, ou que estavam em situações de desemprego de longa duração ou em risco de pobreza e desagregação familiar. Não contratamos ninguém que esteja a trabalhar. Sem qualquer incentivo do estado, esta é a nossa contribuição social”. E isso tem retorno “o maior prazer é poder trabalhar com uma equipa de profissionais fantásticos e ter a consciência que com este projeto conseguimos transmitir felicidade e aumentar os níveis de motivação. As pessoas têm uma dedicação extraordinária e dão mais do que o litro”.
Fonte das Fotos: Litoral Magazine Edição nº2 Junho 2019
Facebook
Instagram
YouTube
RSS