O vice-presidente da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha e vereador da cultura, Delfim Bismarck, revela que o projeto cultural para o concelho passa por um setor que muitas vezes é esquecido: o da identidade histórica e cultural.
Com vários projetos a decorrer nesta área, acredita que cidadãos mais informados serão mais capacitados e ativos. Em entrevista à Litoral Magazine, garante que conhecer a nossa história e o nosso património é um fator diferenciador na identidade territorial. “Só se ama aquilo que se conhece!”
Explique-me a estratégia cultural do município para 2019?
Para 2019, a estratégia cultural do município vem na sequência dos anos anteriores, nomeadamente no que diz respeito à criação de públicos e do reforço da identidade histórica e patrimonial do concelho. Sem estes, estaríamos a programar e a investir dinheiros públicos sem retorno. Daí a nossa preocupação em criar uma oferta cultural transgeracional muito diversificada, não indo atrás de tendências ou modas que na sua maioria não trazem mais-valia alguma para o território.
O orçamento mantém-se igual relativamente ao ano passado?
De uma forma geral sim. Deveremos rondar 1,1 milhões de euros de investimento na área da cultura, entre atividades, apoio a coletividades, programação no cineteatro Alba, na biblioteca e no arquivo municipal, escavações arqueológicas, edições, entre outros, não incluindo encargos com as referidas instalações nem custos com o pessoal.
O que Albergaria-a-Velha pode esperar para este ano?
Para além da natural consolidação de uma programação eclética, existirão algumas novidades que passam pelos primeiros passos na criação de um museu, a organização de uma conferência internacional na área das bibliotecas, a ampliação da Rota dos Moinhos, e a aquisição de mais um sítio arqueológico de relevo para posterior escavação e estudo.
Qual o objetivo da criação do museu?
Será um museu onde serão realçados os mais importantes contributos para a história regional e nacional, pois os territórios que compõem o concelho de Albergaria-a-Velha foram, em diversos períodos, extremamente importantes para a história nacional, fosse na pré-história, na Idade Média, na história da indústria moageira, papeleira, de mineração e de fundição, ou ainda na 2.ª Invasão Francesa, na Monarquia do Norte, entre outras. A ideia é criar um museu que conte estas e outras histórias, uma vez que a maioria da população não tem noção do papel de Albergaria-a-Velha na História de Portugal.
Qual a importância do Festival do Pão para a promoção do concelho e dos seus recursos?
O Festival do Pão de Portugal insere-se numa estratégia integrada na área do Turismo e Património, planeada
pela autarquia. Assim, considerando a diversidade e qualidade dos recursos do município ao nível dos produtos locais e da gastronomia, bem como de um conjunto de recursos turísticos com elevado potencial e, por outro lado, a oportunidade de a partir deles conceber novas ofertas territoriais que potenciem o concelho na sua globalidade e onde este se possa diferenciar pela positiva, o tema do pão (e tudo a ele associado, como sejam os moinhos ou a indústria de panificação) surge como uma oportunidade a explorar em Albergaria-a-Velha.
E o Albergaria ConVida?
O Albergaria ConVida, sendo outro dos grandes eventos anuais, já não é tão diferenciador, uma vez que gastronomia, artesanato e grandes concertos existem um pouco por todo o lado. No entanto, com o Festim – Festival Internacional de Música do Mundo e com os grandes nomes nacionais em concerto, temos conseguido atrair a este festival milhares de pessoas naquele que é um dos momentos altos da animação cultural do concelho.
De que forma a Rota dos Moinhos contribuiu para a reconstrução do património da região?
Sendo Albergaria-a-Velha o concelho de toda a Europa com mais moinhos de água inventariados, mais de 350 moinhos, entendeu a autarquia divulgar e promover todo esse vasto património edificado, criando a Rota de Moinhos do concelho de Albergaria-a-Velha. De facto, esta é uma temática que pela sua expressão cultural do território e componente da sua identidade regional, constitui-se como um importante elemento diferenciador e de elevado potencial. Assim, temos assistido, gradualmente, ao aumento do número de moinhos recuperados, ao aumento do número de moinhos inseridos na Rota dos Moinhos e ao aumento do número de visitantes à mesma.
Albergaria-a-Velha tem uma iniciativa única na região: o Festival Risorius. Que mais-valias trouxe para o município?
O Risorius, Festival de Humor e Arte, tem vindo a consolidar outra das marcas culturais de Albergaria-a-Velha no panorama nacional. Graças ao médico e humorista Carlos Vidal, mentor deste festival, a quem damos total “carta-branca” para programar edição após edição, este festival é já uma referência a nível nacional, tendo por aqui passado os principais nomes nacionais nesta matéria. Recentemente, com a realização do programa “Governo Sombra”, durante o festival, este teve, uma vez mais, grande mediatização nacional.
Qual a iniciativa cultural que considera ter sido a mais vantajosa para o concelho?
De todas as referidas anteriormente, creio ter sido o Festival do Pão de Portugal, pois a sua visibilidade na comunicação social nacional ultrapassa todos os eventos, mesmo a Expo-Florestal. E esse facto, só por si, reforça a competitividade de Albergaria-a-Velha e valoriza a sua identidade. É curioso como a diáspora Albergariense começou a lidar com o facto de o seu concelho estar nos canais televisivos nacionais por bons motivos. No passado, este tipo de visibilidade era escassa e quase sempre negativa, com alusões aos incêndios e à prostituição.
De que forma considera que a população se sente envolvida com a programação do Cineteatro Alba?
O facto de a programação ser “um pouco para todos os gostos” contribuirá para isso. Naturalmente que existem ainda pessoas sem hábitos culturais, daí a nossa preocupação em chegar a essas “franjas” para que adquiram esses hábitos e não se sintam excluídos.
Qual o papel da Biblioteca Municipal de Albergaria-a-Velha na promoção da cultura?
A biblioteca municipal é o principal equipamento municipal de difusão cultural. Para além de espaço de leitura, ali decorrem exposições, conferências e atividades muito diversificadas para públicos de todas as idades. Para se ter uma noção do que estamos a falar, só no ano passado foram cerca de 30.000 visitantes (160.000 desde a sua abertura ao público em 2013). Com cerca de 30 mil visitantes na última edição, este evento é, de longe, o evento concelhio de maior visibilidade nos órgãos de comunicação social nacional.
Delfim Bismarck é natural de Albergaria-a-Velha. Licenciado na Universidade Nova de Lisboa, concluiu o mestrado na Universidade de Coimbra. Estudou história, história da Arte, história da Idade Média e história dos Descobrimentos Portugueses. Entre os anos de 1997 e 2013 desempenhou funções como Conservador da Casa-Museu Marieta Solheiro Madureira, em Estarreja.
Paralelamente presidiu o Instituto de Genealogia e Heráldica da Universidade Lusófona do Porto. É ainda autor de mais de duas dezenas de obras publicadas sobre história, arte, património, biografias, genealogia e heráldica, com especial enfoque na região de Aveiro, e autor de mais de duas dezenas de comunicações em congressos, colóquios e palestras, nacionais e internacionais, e colaborador em diversos documentários históricos para televisão. Em 2013, aceitou o desafio lançado por António Loureiro, presidente da Câmara Municipal de Albergaria-a-Velha para assumir as funções de vice-presidente e vereador da Cultura. Para Delfim Bismarck, Albergaria-a-Velha é um concelho bem localizado onde a indústria, o ambiente e a cultura se fundem e onde vale a pena investir, viver e visitar.
Facebook
Instagram
YouTube
RSS