Decidimos escapar à azáfama da cidade e zarpar em busca de um dos patrimónios naturais mais ricos da região: A Bioria em Estarreja
O telemóvel marcava 18º graus, o céu estava límpido de um azul brilhante, e fazia-se sentir uma pequena brisa. Estavam reunidas as condições para um belo início de tarde. Esperavam-nos cerca de 8km por entre trilhos em terra batida, muita vegetação, uma ria a ganhar forma e uma imensidão de ruídos provenientes da fauna já bem desperta. É na freguesia de Salreu, concelho de Estarreja, a pouco mais de 20 minutos de carro do centro de Aveiro podemos encontrar este pequeno paraíso chamado BioRia, um património natural de pura biodiversidade.
Trata-se de um projeto pioneiro de conservação da natureza e biodiversidade, um espaço que ansiava reavivar a sua identidade e que lhe foi conferido graças à Câmara Municipal de Estarreja e ao seu desígnio “Virar o Concelho para a Ria”.
O Valor da Bioria
É considerada uma das mais importantes formações geológicas com elevado valor conservacionista no panorama nacional e internacional. Eduardo Mendes, um dos biólogos ao serviço da BioRia, diz-nos que desde a consolidação do projeto, em 2005, que “a BioRia se tem tornado num ponto de referência para quem visita a região.
Anualmente são já cerca de 40.000 mil os visitantes que cada vez mais procuram o contacto com a natureza, seja por recreação ou pelo desporto. No total são quase 50 km de ar puro trilhável distribuídos por 8 percursos pedestres e cicláveis. Aqui há lugar para todos, ou não fosse possível realizar estes percursos livremente em ritmo de caminhada, corrida, bicicleta, sozinho ou entre amigos.
De forma a auxiliar os visitantes, no Centro de Interpretação Ambiental podem ser solicitadas informações, sugestões e indicações para os percursos, bem como alugar bicicletas para os visitar de forma mais cómoda.
Para os mais entusiastas há a possibilidade de usufruir do serviço de visita guiada, a qual pode ser realizada a pé, de bicicleta, ou de veículo elétrico, com a oportunidade de se fazerem acompanhar por um biólogo que interpreta o opulento património natural da região e o catalisa para autênticas experiências de educação ambiental.
Fauna e Flora
Eduardo, de 31 anos, é também guia intérprete, tendo-nos prestado uma verdadeira aula sobre a fauna e flora presente na BioRia. Por entre caniçais, juncais e sapais, pelos arrozais e o peculiar Bocage (habitat único na região, caraterizado por pequenos terrenos de cultivo ou pastagens, rodeados por árvores e arbustos de espécies nativas, e por valas de água doce) é possível observar várias espécies nos seus habitats naturais.
Destaque para as aves (mais de 160 espécies), mamíferos, répteis, anfíbios e invertebrados. Como não poderia deixar de ser, este “santuário” é a casa de diversas espécies protegidas, como: garça-vermelha, águia-sapeira, rouxinol-dos-caniços, cigarrinha-ruiva, lagar to-de-água, rã-ibérica, rã-de-focinho-pontiagudo, entre outras.
Eventos
Durante o ano, a BioRia é o pano de fundo de vários eventos, sendo o ObservaRia e a BioRace os que mais se destacam, segundo o biólogo. A ObservaRia “é uma feira bienal de turismo de natureza onde é possível participar em várias atividades com inscrição gratuita: palestras, workshops, atividades ao ar livre, passeios de barco, voo cativo em balcão de ar quente, exposições e stands de empresas e associações liga dos à área”. No que diz respeito às palestras e workshops podemos sempre contar com orado res de excelência, nacionais e internacionais que abordam temáticas como o birdwatching, foto grafia de natureza sustentabilidade, comunicação de ciência, entre outros.
A pensar nos mais aventureiros e audazes, a Bio Ria organiza anualmente a BioRace (28 de setembro), uma corrida de obstáculos por entre o baixo Vouga Lagunar. Prepare-se para correr, saltar e rastejar numa prova que dizem ser para todos, “independentemente da idade ou preparação física”. Segundo o biológo, “o projeto conseguiu ainda alterar a perceção do público relativamente à região, que no passado era associada à indústria e à poluição, e agora é principalmente reconhecida pelo seu património natural.”
Uma visita obrigatória, para todas as idades que ajuda a recarregar as baterias para mais uma semana de trabalho.
História
Foi graças ao recuar do mar no século XVI – nos atuais concelhos de Estarreja e Aveiro – que nasceu este ecossistema natural. Com o passar dos anos, a relação entre o homem e a natureza ajudou a esculpir o ecossistema que hoje temos o prazer de poder trilhar. As salinas, a drenagem de sapais, a abertura de esteiros e a dragagem de canais para navegação foram algumas das obras realizadas ao longo dos anos que contribuíram para a biodiversidade presente neste pequeno “santuário selvagem”.
Fotografias: Ricardo Bento – Litoral Magazine
Facebook
Instagram
YouTube
RSS