Entrevista a Paulo Costa – Vereador da Cultura da Câmara Municipal de Ílhavo
Em terra de arrais, marinheiros e capitães, a “cultura do mar” está presente na história das suas gentes.
Mas Ílhavo é também terra de gente criativa e, segundo Paulo Costa, o atual mandato quer reforçar a aposta na cultura, entendendo-a como uma estratégia para o desenvolvimento social e económico do município.
Qual a estratégia cultural do município de Ílhavo para 2016?
Entendo a cultura, seja vista de que ângulo ou dimensão for, porque a sua definição pode dar azo a várias interpretações, como uma área absolutamente vital para o bom crescimento de qualquer sociedade. O acesso à cultura contribui de forma decisiva para o surgimento de sociedades mais justas, mais equilibradas, mais solidárias, mais curiosas, mais criativas, mais interventivas. E em consequência mais desenvolvidas social mas também economicamente. Muitas vezes esquecemo-nos da importância da cultura enquanto setor económico, já hoje com um peso relevante no PIB. Por isso o fácil acesso à cultura não pode ser associado apenas aos países ricos, onde as pessoas possuem um elevado poder de compra. Devemos sim entender que provavelmente esses países são ricos também porque em dado momento houve uma aposta séria e estratégica na cultura.
A cultura, entendendo-a então nas suas várias formas e expressões, foi assumida há vários anos pela Câmara Municipal como uma aposta absolutamente estratégica para o desenvolvimento, não só social, mas também económico, do Município de Ílhavo, terra de marinheiros mas também terra de gente muito criativa, em várias áreas, opção política que foi reforçada no atual mandato.
Os importantes investimentos, materiais e imateriais, que têm sido executados nos últimos anos no Município de Ílhavo, sobretudo por parte da Câmara Municipal, mas também por parte do setor privado, no qual sobressai o sempre fundamental tecido associativo, têm permitido materializar esta política, que é absolutamente transversal a toda a sociedade.
Em 2016 iremos continuar este caminho, que contará com três novos atores: o recém-inaugurado Centro Sociocultural da Costa Nova, um edifício belíssimo, assim como o Teatro e o Museu da Vista Alegre, que tornarão Ílhavo num território ímpar no contexto regional, mas também nacional.
Muito em breve, quando estes equipamentos estiveram preparados para ser colocados ao dispor de todos, apresentaremos publicamente aquele que será o nosso caminho e estratégia para os próximos anos, no qual não apenas a fruição da cultura, mas também a criação, ocuparão um especial destaque.
O orçamento para a cultura em 2016 mantêm-se relativamente ao ano passado?
O cálculo do orçamento da cultura para um determinado ano não é uma tarefa simples e clara, pois as rúbricas são diversas. No que diz respeito, por exemplo, ao investimento em obra, terminaremos este ano os investimentos na Vista Alegre, mas manteremos um valor alto em virtude do início da construção da casa da música da Gafanha da Nazaré. Nas iniciativas o investimento irá aumentar, muito por força da realização em agosto da edição 2016 do Ílhavo Sea Festival, que voltará a trazer até nós alguns dos mais belos veleiros do mundo. No que diz respeito à programação regular dos espaços, como os Centros Culturais, o Museu Marítimo, a Biblioteca Municipal ou o Centro de Documentação, partimos com a perspetiva de não aumentar os seus orçamentos da despesa relativamente a 2015, procurando contudo aumentar as suas receitas.
Indique-me um dado relevante do pelouro da cultura para 2016?
Como atrás referi iremos em breve apresentar publicamente a nova estratégia do município para esta área, envolvendo todos os equipamentos culturais, assim como um vasto leque de parceiros, que tem vindo a ser trabalhada desde o ano passado, e essa será seguramente a grande novidade para 2016.
De qualquer forma é importante referir que a grande dinâmica que temos vindo a imprimir quer na programação regular dos vários espaços, quer através de outras iniciativas como o Festival do Bacalhau, a Rádio Faneca, a Rota das Padeiras, o Ílhavo Sea Festival que já referi, o Festival de Teatro, as Marchas Sanjoaninas, entre outras, serão mantidas.
Não posso contudo deixar de referir um projeto muito especial e muito importante que tem sido uma verdadeira delícia, quer pelas descobertas que tem proporcionado, quer pela recetividade por parte das pessoas intervenientes, que é o “Ílhavo, Terra Milenar”, e que terá em 2016 um ano decisivo. Este projeto visa estudar os quase mil anos de história documentada de Ílhavo, que terá como faces mais visíveis uma grande exposição e um trabalho monográfico, e que conta já com a colaboração de muitos investigadores, grande parte deles do Município de Ílhavo, facto que me enche de orgulho e de satisfação.
Há no programa de 2016 alguma atividade direcionada para crianças, idosos e famílias mais desfavorecidas. Em Ílhavo a cultura é para todos?
Em Ílhavo a cultura é decididamente para todos, independentemente da sua idade ou da sua condição social, e isso percebe-se facilmente na nossa programação regular. Se olharmos para as iniciativas que decorrem nos vários espaços, todos os meses encontramos iniciativas para bebés, para crianças, para jovens, para adultos, para idosos. Em relação às famílias com maiores dificuldades financeiras, foi criada uma nova medida de apoio no Fundo Municipal de Apoio a Famílias e Indivíduos Carenciados, precisamente para facilitar o acesso por exemplo a espetáculos. Trata-se de uma medida inovadora, que surge nesse Fundo lado a lado com outras medidas igualmente importantes como a comparticipação no pagamento da renda de casa ou do empréstimo bancário, na realização de obras em casa, na comparticipação na fatura mensal da água, saneamento e resíduos sólidos, entre outras.
Aproximadamente quantos espetáculos irá receber o Centro Cultural de Ílhavo?
A programação de 2016 não está ainda naturalmente fechada, até porque a direção dos centros culturais irá mudar muito em breve. Contudo posso adiantar que em 2015 foram realizadas cerca de 210 ações, nas quais participaram mais de 50.000 pessoas. Teremos este impressionante número como farol para 2016. O mesmo se passando, por exemplo, com o Museu Marítimo de Ílhavo, que em 2015 bateu o seu número máximo de visitantes, com 79.000 pessoas.
Destaque quatro espetáculos que este ano irão decorrer no Centro Cultural de Ílhavo e que ainda não tenham sido divulgados.
Reportando-me naturalmente aos próximos meses, destacaria, para além da extraordinária exposição “How to do things with bodies”, de João Garcia Miguel, patente até 30 de abril, a III Mostra de Robertos e Marionetas que decorrerá até 24 de março, no CCGN, o concerto com Tiago Bettencourt a 24 de março, no âmbito do 8.º aniversário do CCI, o Ballet Flamenco de Madrid, a 4 de março e o projeto de comunidade “Quando o homem lavrava no mar”, um concerto-instalação de Fernando Mota, em homenagem aos pescadores portugueses, que terá lugar a 11 de março. Uma referência ainda para a estreia nacional de um projeto da Companhia Olga Roriz, a 29 de abril.
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